Ouvirá o Mundo o que nunca viu, lerá o que nunca ouviu, admirará o que nunca leu, e pasmará assombrado do que nunca imaginou.


Padre António Vieira, História do Futuro


terça-feira, 16 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Um poema de N’Zoge Victor do 10º8

A Pessoa da minha Vida


Ela tem um jeito
Que só ela tem.
E que é demais.
Ninguém me faz
Sentir do jeito que ela me faz.

Bonita por dentro,
Por fora também,
Com Ela irei para além do além.

A Vida deu -me tudo que tinha para dar
Não quero mais nada
Porque para mim chega já.

É o brilho que traz a luz ao meu mundo,
Bem dentro do meu coração, ela está no fundo.
Meu anjo da guarda, minha dama, amiga, meu Às, meu trunfo.

Fizeste o meu mundo maravilhoso.
Trouxeste paz, harmonia e orgulho.
É o meu ar, que me faz respirar.
Para mim, Tu representas
A Lua, as Estrelas, o Sol e o Mar.

É bom sonhar e tentar
Para se alcançar.
Tudo o que fizeres não será em vão
Pois estarás dentro do meu coração.


N’Zoge Victor nº14 10º8

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ler um poema, é também olhá-lo, às vezes com as cores para as quais ele nos transporta...Ler, naquela aula, foi também desenhar as palavras com as cores do poeta.
Teresa G.

NUM BAIRRO MODERNO

Dez horas da manhã; os transparentes
Matizam uma casa apalaçada;
Pelos jardins estancam-se as nascentes,
E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga macadamizada.
 
Rez-de-chaussé repousam sossegados,
Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almoço as porcelanas.
 
Como é saudável ter o seu conchego,
E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia.
 
E rota, pequenina, azafamada,
Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
Como um retalho de horta aglomerada,
Pousara, ajoelhando, a sua giga.
 
E eu, apesar do sol, examinei-a;
Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
Se ela se curva, esguedelhada, feia
Sérgio Afonso - 11º1 -2009/10
E pendurando os seus bracinhos brancos.
 
Do patamar responde-lhe um criado:
"Se te convém, despacha; não converses.
Eu não dou mais." E muito descansado,
Atira um cobre ignóbil oxidado,
Que vem bater nas faces duns alperces.
 
Subitamente - que visão de artista! -
Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do Sol, o intenso colorista;
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!
 
 Bóiam aromas, fumos de cozinha;
Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.
 
E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injectados.
 

Ruben Dias 11º1 -2009/10
 As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.
 
Há colos, ombros, bocas, um semblante
Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como dalguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre.
 
E, como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.
 
O Sol dourava o céu. E a regateira,
Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me prazenteira:
" Não passa mais ninguém! ... Se me ajudasse?! ..."
 
Ana Alves 11º1 -2009/10
Eu acerquei-me dela, sem desprezo;
E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantámos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
Com um enorme esforço muscular.
(...)
 
E pitoresca e audaz, na sua chita,
O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,
Duma desgraça alegre que me incita,
Ela apregoa, magra, enfezadita,
As suas couves repolhudas, largas.
 
E, como as grossas pernas dum gigante,
Sem tronco, mas atléticas, inteiras
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
Duas frugais abóboras carneiras.

Lisboa, Verão de 1877


Pedro Pontes 11º1 -2009/10

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um texto de Miguel Coxe do 10º 1

A minha bandeira descoloriu


Estou em casa a observar através da janela a neve que cai lá fora e penso, ao mesmo tempo, que o Inverno veio mais uma vez acabar com os meus momentos de glória.
Estou sozinho, no quarto enorme, pintado de azul claro e com cheiro de homem.
A minha mãe tinha ido fazer as compras para os preparativos do final do ano. Este ano resolveram pôr-me de parte e sem o meu consentimento decidiram que iriam passar o ano novo na casa do tio Eddi Venturas que reside em Espanha. Eu ainda contestei com a decisão, mas ouvi da senhora Carla Botelho algo do género:
- Não temos que ficar em casa só porque tu queres!
O Senhor Botelho olhou-me com dureza no momento do lance, sempre com o seu ar de quem concorda que quando uma mulher fala não deve impor-se a ela, portanto a mãe, sendo uma mulher robusta, de cabelo ruivo e olhos de avelã, quando fala tem a razão do seu lado. Descobri que o meu pai age assim, porque lê demais, lê às escondidas um livro de título “ O livro das mulheres” e, certo dia, para não ficar na dúvida, perguntei-lhe por que lia algo que na minha opinião estava destinado a uma mulher e ele disse-me que agora é o tempo delas, que são elas a chave da felicidade. Bem, que horror! Tal foi o meu espanto! Eu acabava de completar catorze anos naquela altura. Eu era um rapaz do futuro e o mundo todo e os rapazes do futuro só tinham em mente Software, Windows, Motherboard, Internet, computadores e o Senhor Botelho tinha em mente compreender uma mulher como quem quer compreender uma flor a desabrochar numa manhã primaveril. Bem, esqueçamos isso, que são coisas sem valor. Vou falar um pouco em particular do meu herói. O Senhor Botelho é baixo, gordo, de pele pálida, de bigode espesso e cabelo escuro rente à cabeça. Antes ele era muito alto, hoje eu vejo que, quando se tem seis anos de idade, o mundo é um lugar enorme e complexo. Gosto de chamá-lo Senhor Botelho, porque as grandes personagens das nossas vidas merecem que o amor e a amizade da nossa parte lhes chegue com exagero. Sem o exagero, o amor e a amizade não são nada. É como a ausência de chama numa alma, é como parar, olhar e desistir quando nos aparece uma parede a frente. Digo isto porque para haver sentimento é necessário entusiasma-se bastante. Enquanto penso nessas questões, ouço a voz da minha mãe de repente, seguido do ruído da porta de casa.
- Umberto!
O Senhor Botelho entra a seguir com os seus sapatos que fazem um barulho estrídulo. Traz sacos nas mãos que também exercem o seu barulho. Não vou ao encontro deles, espero no canto da janela, fingindo contar uma história para mim. Lá fora a neve cai lentamente.
- Gaspar Umberto Botelho!
Berra o meu pai que sobe a escada para o pavimento superior.
- Sim! -respondo quando este alcança a porta do quarto e a abre devagar.
- Umberto, que fazes aí parado? - perguntou, com uma voz paciente e terna.
Não o olho ainda, tenho prazer em pensar como será o seu aspecto, partindo do princípio que só me dão o nome dele e me dizem que este nome pertencerá ao meu pai.
Imagino-o como Alcapone, caminhando naquela tarde, naquela neve, com o seu charuto na boca, com o coração quebrado por ter-se dado ao luxo de compreender uma mulher, quando lhe diziam que o amor é para os idiotas. Imagino Alcapone com o seu fato preto. A alma já há muito descoloriu como uma bandeira esquecida numa ilha. Traz numa das mãos uma lata de salsicha e no bolso da gabardina uma Coca-Cola. A barba estava por fazer. Imagino-o, eu Gaspar Botelho para quem, por acaso, se esqueceu do meu nome.
Outubro de 2010